do sem-fim além de mim¹ (evocação)
- lufelopes
- 8 de fev. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 3 de nov. de 2021
Inicio este lugar de maneira inversa; o desenho sempre foi um hábito, no qual, minha mãe narra, desde muito pequeno, o que mais me distraía era deixar-me com um papel e lápis ou com objetos em que criava minhas histórias.
Sou o filho do meio com duas irmãs e assim cresci na presença de muitas mulheres e com as quais sempre mantenho uma relação estreita de amizade. Ainda pequeno, brincava com minhas irmãs e suas bonecas e, às vezes, até surgiam brigas, pois chegava a mudar o visual delas, cortando cabelos e até confeccionando roupinhas, mas sempre com prazer e elas me nomeavam padrinho de suas bonecas, fazíamos batismo de todas elas com direito a certidão de nascimento e festinhas. Me vestia de padre, enfim...assim o universo feminino nunca foi algo distante. Ao contrário sempre estou presente e agora com maior compreensão do que isso significa e no que diferencia enquanto ao gênero.
Após finalizar o curso de Arquitetura e Urbanismo, me torno professor e estabeleço das relações na educação e pesquisas nesta área que estarão presentes em meu ser. Quando fui para Barcelona, Espanha, 1989, para estudar e terminar meu mestrado, na Universidade Politécnica da Catalunha (UPC), no curso de Arquitetura e Urbanismo; projeto iniciado na Universidade de São Paulo em 1986 e deixei para terminar em Barcelona; onde ao chegar se converteu em doutorado diante das diferenças de créditos e currículos, mas que, ao final, não concluí em Barcelona nenhum deles; os que foi retomado aqui no Brasil. De minha chegada na Europa, foram dois anos em que trabalhei como arquiteto e, logo em 1992, iniciamos com duas amigas, Angeles Blanco e Fafa Franco, a Falu, um ateliê onde desenvolvemos vários acessórios e até figurinos com o (re)úso de materiais, promovendo um percurso como autônomo na Europa da qual retorno ao Brasil em 2002.
E foi com os desfiles e performances que fazia com a Falu, que pude imergir na pesquisa, em minha produção, neste universo da criação, e pelo próprio (re)úso, o da (re)criação constantes. Trago a seguir uma sequência de fotos do Vestido Água; início, em 1992, desfiles Falu, Barcelona; nova trama de botões coloridos e as mangas em 1993 na performance para o Centro Cultural La Santa, Barcelona; e, no mesmo local para outra ocasião, criei o vestido verde de gaze e acréscimo dos fios metálicos 1995 desfile XFAd - Concurso Escuela de Diseño, Barcelona (prêmio criatividade); Moda e Meio Ambiente, desfile SESI - Ribeirão Preto, 2009; bordados e aplicações para a exposição Casa Mazzilli - Muzambinho, 2010:

















Volto a minha cidade natal, Muzambinho, passados 20 anos meu amigo Domingos Mazzilli Junior, foi quem me convidou para participar de uma coletiva que organizava por ocasião de despedida da loja da família, que iria fechar um ciclo, dentro de uma das casas de comércio mais tradicionais de nossa cidade, A Casa Mazzilli.
Também para este relato, trago imagens de uma das peças mais importantes que foi um presépio que fiz para presentear minha avó, em 1973. Estava com 10 anos de idade. Refiz esta peça em 2020, como um evocar de um tempo que inicio ou (re)inicio aquilo que não tem fim diante de toda criação...






Fecho este lugar de evocação, da memória, do tempo e do espirito trazendo um trabalho que desenvolvi em 2010 para o SESC- Ribeirão Preto. Em uma oficina, que por ser durante período de férias, pude contar com poucos participantes que, ao final, considero como uma oportunidade, pois foram quatro mulheres: minha mãe, Ignez Menezes Pereira Lopes, minha irmã, Silvia Regina Pereira Lopes, uma de minhas queridas alunas no curso de artes, Silmara Palandre, e sua mãe Aparecida Moraes Sili. Ouso denominá-las como minhas quatro colaboradoras, protetoras e fadas auxiliares. A ideia era um curso de modelagem com fita adesiva, após uma montagem em uma instalação, na qual iniciamos diálogo no sentido da palavra semióforo, sobre um fato que se transforma em símbolo, que ao ser compreendido pode alterar sua realidade descrevendo algo que é fecundo. A instalação intitulei ´Pensar no Mito Edênico ou Cura pra uma Natureza Morta´, a qual localizamos nos jardins internos da unidade. Modelamos uma das árvores mais antigas do jardim e adicionamos os elementos que construímos nas oficinas, que foram as mãos das participantes e quatro caixas com a palavra ÉDEN no seu interior, todos em diálogo sobre o que seria essa natureza, o Éden e o mito.
¹verso da letra de Carlos Rennó, com música de Gilberto Gil, Átimo de Pó (1995).
Lufe,sou uma admiradora da sua arte. Me lembro dos seus trabalhos quando o re-uso não estava nem em uso e você já era sensível à necessidade de re-utilizarmos o que seria descartado ou dito como inútil. Sua primorosa arte nos leva à novos olhares ,possibilidades e reflexões de tudo ao nosso redor.